Lembro que no meu primeiro namoro eu comprei um daqueles diários de criança, com um fecho de senha, mas de plástico, eu escrevia tudo que me apavorava naquele relacionamento que era tão diferente de tudo que eu já tinha vivido, até então eu era uma garota evangélica que acreditava que "ficar" era um pecado. Eu escrevia durante a noite, e de manhã, no ônibus para o colégio meu ex, que já sabia a senha, lia até mesmo as coisas ruins sobre ele, essa foi talvez a coisa mais legal entre a gente, mas esse não é um paragrafo sobre meu primeiro namoro, é sobre eu me sentir realmente aliviada quando escrevo.
Eu pretendia fazer um resumão desses meses sem escrever, mas muita coisa aconteceu, mudei meus planos umas 15 vezes e nem tudo teve seu desfecho ainda. Não é preguiça de colocar vocês a par, é não saber como fazer isso.
Então esse post é sobre nada?
Não sou tão louca assim, esse post é sobre o acontecimento do ano, dos últimos cinco anos, e sobre algumas descobertas sobre mim mesma.
E então você criou coragem e saiu da zona de conforto, e agora?
Ficou ó, uma bosta!
Mas vamos ao que interessa, eu fiz! Eu finalmente decidi sair da faculdade, aquela que falta muito pouco, aquela que só faltavam seis meses, agora falta um ano inteiro, e está eternamente quase acabando.
Se eu fiquei louca?
Completamente, eu perdi as contas das vezes em que me peguei pirando com a ideia de, algum dia, me dar bem na área e nunca mais sair em busca dos meus sonhos impossíveis. A verdade é que você não vai arrumar um jeito de fazer o que você ama depois que se estabilizar, você vai ter uma desculpa para não criar essa maldita coragem.
Sim meus amigos que estão lendo isso agora e sabem que quase anotei seus nominhos aqui, sair da zona de conforto é não estar seguro, não ter certeza, nem por um minuto, e meter o loco.
Agora tu se sente livre né?
Aquela sensação de estar pronta pra qualquer coisa?
Aquela certeza de ter feito a escolha certa?
Nem um pouco baby, tá bom, algumas vezes, por uns 15 minutos, dá essa satisfação, aquele "cara, sou muito foda".
Mas a verdadeira sensação que predomina nos dias que se seguem é aquela de "primeiro dia de aula", quando você não sabe de nada, não conhece ninguém, e espera sofrer bulling até dos professores.
Deve ser a mesma sensação de quando você está formado e te perguntam em que você vai trabalhar, mas eu acredito que nunca poderei comparar.
Sair da zona de conforto é uma bosta, eu sou universitária há 7 ANOS, bom, era, tô acostumando e ainda pago meia no cinema, eu sai de outras 2 faculdades e quase que automaticamente entrando na próxima, mas agora simplesmente acabou essa vida, esse status, não tinha entendido bem que eu não era apenas graduanda em Química, aquele realmente era o meu mundo, os grupos que eu entrei, a rotina que eu tinha, a forma como as pessoas me tratavam e como eu as tratava, aquilo me representava.
E agora nem tenho mais em que sentir vontade de jogar uma bomba.
Brincadeiras toscas a parte, isso marca o fim da minha rebeldia sem causa, a minha marca registrada, justificativa para o mau humor, o desânimo, como disse minha mão, agora não tenho mais motivo para querer ficar sozinha no meu quarto, vai entender essa lógica.
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Ela ficou puta, ela ficou muito puta, achei que eu ia apanhar com 27 anos, respirei fundo e não recuei, mas tem uma coisa nas mães que a raiva some tão rápido quanto ela se formou, minha mãe me ama, ela tá muito irritada, mas ela não me odeia, mas toda vez que ela lembra eu vejo sair uma fumacinha da cabeça dela.
Meu pai?
Também ficou muito chateado, me ligou e me disse coisas lindas para um pai, que quer me ver bem, segura, estável, com futuro certo, me doeu um pouco ter que dizer a ele que eu não quero nada disso, que nunca quis, eu sempre quis aventura, aos seis anos eu coloquei todas as minhas roupas em sacolas de supermercado e guardei por semanas no meu guarda roupas, minha vida era ótima, como agora, mas eu sempre quis esse desconhecido.
As pessoas vão reagindo de formas diferentes, e isso muda minha perspectiva a todo momento.
Pouco tempo atras uma tragédia levou um amigo desse mundo, e assim como ele, não tenho a perspectiva de que haja outro além desse, assim que a minha dor e saudade foram muito fortes e sempre serão, mas a minha compreensão sobre ter um propósito na vida que levo também foi fortificada.
Claro como água: se não há qualquer prova de um outro mundo, de uma outra chance para fazer o seu melhor, para ver dias mais felizes, justiça para todas as pessoas, se não é possível ter certeza que um dia todos estaremos no mesmo estado de graça, essa é a única vida que temos para fazer o nosso melhor em tudo, para buscar mais justiça, ainda que ela nunca tenha nos faltado, eu só conheço esse mundo e acho que ele precisa mudar muito, como não trabalhar por isso todos os dias da minha vida?
Eu não ia fazer muito para mudar o mundo com a Química, eu provavelmente não iria fazer nada, eu seria uma eterna rebelde sem causa, lamentando todos os dias nunca ter feito o que eu queria fazer, acusando o mundo de ter feito com que eu me conformasse, e esse mundo que eu devia estar mudando e melhorando seria meu grande inimigo.
Não, obrigada, a única rebeldia que combina comigo agora é essa de tomar o volante da minha vida, e não saber ao certo como guiá-la, derrubar algumas placas de advertência, lembrar que combustível não sofre geração espontânea dentro do motor, eu vou ter que colocar mais, muitas vezes.
Essa analogia eu criei por conta da música que embalou meu momento de decisão:
Sou muito musical, mas eu não fico irritando as pessoas com isso nas redes sociais hahaha.
O que vem agora?
Parece que vem todo o resto...
Um possível emprego vem surgindo, juntar grana por um tempo (não estou sendo hipócrita, mas sim, é preciso um pouco de dinheiro, aceitemos), finalmente sair do país um tempo, ou muito tempo, venho planejando uma dessas voltas ao mundo, a minha vida agora é uma incrível folha em branco, onde vou escrever tudo do zero, do meu jeito, minha própria história, e se ficar uma porcaria, é minha porcaria!
Que eu possa estudar cinema como eu desejo com tanta força.
Que eu pare de enganar nos idiomas e os estude de verdade.
Que eu pare de julgar as pessoas.
Que eu viaje o mundo.
Que eu mude seja a tal mudança que eu quero ver no mundo.
A vida é curta demais para qualquer zona de conforto.
Imagens retiradas do site weheartit.com
Vídeo: youtube.com
Banda Incubus
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